Sem transparência não há gestão: Dados divulgados pela USP não são coerentes com o que diz a própria Reitoria

Desde o início do ano de 2021, as mobilizações em torno do auxílio alimentação pecuniário tomaram forma e ganha cada vez mais adeptos. A situação de vulnerabilidade e insegurança alimentar em que a Universidade de São Paulo abandonou seus estudantes mais pobres durante o período de pandemia, somado ao fato de ignorarem nossas demandas e não oferecerem alternativas coerentes com a realidade posta de fechamento dos restaurantes universitários e isolamento social, fez com que o movimento se espalhasse pelos campi, juntando estudantes de diversas unidades em prol desta luta.

O Comitê de Luta pelo Auxilio Alimentação tem causado muito incômodo à reitoria questionando a ausência de transparência e políticas públicas de permanência eficientes e coerentes. Manifestamos nossos incômodos em uma live que contou com reitor e vice-reitor[1], transmitiram reportagens no jornal SPTV primeira edição sobre a situação crítica do CRUSP e a problemática das marmitas[2] e enviamos massivamente milhares de e-mails com nossas reivindicações, tornando elas claras.

Mesmo com cobranças em série e ações diretas para a USP começar a se mexer, a reitoria de recusa a prestar contas de suas ações, que vem somente após exposição pública da universidade (já que a maior preocupação da reitoria é com a imagem da USP), e são insuficientes e contraditórias, ainda mais quando se trata de permanência estudantil. Ainda, é patética a forma como a universidade, através do Jornal da USP veicula matérias e reportagens com tom otimista[3], vangloriando-se dos feitos realizados durante a pandemia para dar apoio aos estudantes mais vulneráveis, o que demonstra uma visão completamente descolada da realidade, visando construir uma imagem fantasiosa que só existe nos discursos dos dirigentes.

Falam sobre as marmitas como se contemplassem de fato os estudantes que moram longe das unidades e não podem (e nem deveriam) se deslocar para ter acesso a alimentação, como se o CRUSP não estivesse caindo aos pedaços e como se a distribuição de kits de limpeza fosse diária e suficiente para suprir as necessidades de seus moradores, que ainda tem déficit de condições apropriadas de saneamento, infraestrutura e eletrodoméstico essenciais.

Ainda assim, ao solicitar informações via Serviço de Informação ao Cidadão (SIC), que trazia dados preocupantes, mostrando uma queda brusca no número de concessões de auxílios. Depois de consultar a instituição diversas vezes, buscando esclarecimentos sobre os dados, sem nenhuma resposta, publicamos uma denúncia que mostrava a queda de contemplados pelos auxílios PAPFE. A SAS, então, apenas após essa exposição pública, respondeu em nota[4] preocupada com a repercussão, mas de forma a esgarçar ainda mais contradições de suas políticas. Nos acompanhe nos próximos parágrafos!

No SIC - 208538[5], ao ser solicitado o número total de beneficiados, em cada modalidade do PAPFE, por unidade na USP, a SAS responde: “(...) Informamos que, a partir de 2019, os auxílios passaram a ser concedidos por dois anos (24 meses) e, por esse motivo, no ano de 2020 há uma aparente diminuição de concessões. Em 2020 inscreveram-se apenas os alunos que não tinham auxílios ou que queriam alterar o auxílio que já recebiam. O número total de inscritos em 2020, deve ser considerado a soma do ano de 2019 e 2020, excluindo os alunos que perderam o vínculo com a Universidade de São Paulo durante o período.” (negrito de nossa autoria)

Então, inferimos que o número total de estudantes contemplados pelo auxílio alimentação em 2020, por exemplo, será menor ou igual a soma dos contemplados por este auxílio em 2019 e 2020. Em números, considerando os dados fornecidos no SIC-208538, o total de contemplados pelo auxílio alimentação em 2020 era no máximo 11.038 estudantes, porém em nota a SAS reporta 11.629, uma diferença de 591 estudantes. Ainda, quanto aos valores de 2019, a SAS reportou em nota 8.898 auxílios concedidos, porém no Anuário 2020 da USP consta 15.704 auxílios concedidos e, nos dados do SIC-208538 fornecidos pela SAS, são 7.500 auxílios concedidos. Em qual número devemos confiar? Provavelmente nenhum...

A falta de convergência vista nos dados referente ao auxílio alimentação se repete também nos dados das outras modalidades do PAPFE. Ou seja, a USP se mostrou incapaz de fornecer informações consistentes e confiáveis sobre sua política de permanência estudantil e ainda negligências para com os estudantes. É evidente a incompetência da universidade em garantir políticas de permanência efetivas e o descolamento do debate com os estudantes, por isso demandamos que a Universidade se explique sobre esses dados de formas realmente transparente, mostrando quais informação se tem, e quais não se tem de fato, ao invés de se envergonhar publicando números desencontrados. Os estudantes devem ser incluídos na gestão do programa de permanência, sendo o diálogo entre as partes e a transparência princípios fundamentais que regem a administração da Universidade o mais rápido possível.

Os estudantes não mais esperam por respostas e por ações que garantam nossa entrada e permanência digna na universidade, nós exigimos.

Comitê de Luta pelo Auxílio Alimentação na USP.